Menos de quatro anos depois de Alberto Santos Dumont ter levantado voo no 14-Bis diante de uma plateia boquiaberta em Paris, um engenheiro e inventor nascido na Espanha voou em um aeroplano por 103 metros em Osasco –na época, uma vila pertencente a São Paulo.

A façanha de Dimitri Sensaud de Lavaud, no dia 7 de janeiro de 1910, entrou para a história como o primeiro voo da América Latina.

O aeroplano "São Paulo" foi totalmente projetado e construído por Dimitri e um ajudante em um galpão vizinho ao Chalé Brícola, onde a família dele vivia no Brasil. A região hoje corresponde à área central de Osasco.

Com cobertura da imprensa e sob expectativa de um público numeroso, Dimitri decolou a aeronave de 190 quilos e hélices de jequitibá e a manteve no ar por pouco mais de seis segundos, voando em uma altura de três a quatro metros.

O avião atravessou a estrada que hoje é a avenida dos Autonomistas e caiu em seguida, quebrando uma roda no pouso forçado. Dimitri saiu ileso e aplaudido.

O inventor, nascido em 1882, chegou ao Brasil no final do século 19. Assim como outros europeus que chegaram à Osasco na época, Evariste foi convidado pelo empresário italiano Antonio Agú ""grande proprietário de terras e fábricas no local"" a tocar negócios na região.

Dimitri, que se casou com uma brasileira e teve três filhos, arrendou a Cerâmica Osasco, que mais tarde se tornaria uma das mais importantes do país.

Ao final Segunda Guerra Mundial, o nobre, que voltou a viver na França, foi preso, acusado de colaborar com nazistas. Após oito meses, foi liberado da acusação, considerada injusta, segundo biografia feita pelo Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

O tempo na prisão, no entanto, teria o levado a uma depressão que contribuiria com a sua morte por problemas cardíacos, aos 64 anos.

MUSEU

O casarão onde vivia a família Sensaud de Lavaud abriga hoje o Museu Municipal de Osasco, batizado com o nome do aviador.

O espaço, na avenida dos Autonomistas, 4.001, exibe fotos e informações sobre o voo pioneiro, assim como outros inventos de Dimitri ""um prodígio capaz de se comunicar em sete línguas.

"Ele tem mais de 1,2 mil patentes, entre elas o câmbio automático usado em automóveis", diz Edileusa Malfetti, coordenadora do museu.

A construção de pé-direito alto e estilo rural era considerada luxuosa para a época. Nos anos 1960, porém, a casa estava completamente abandonada e servia como abrigo para moradores de rua. Na década seguinte, a prefeitura decretou o local como de utilidade pública e inaugurou o museu em 1976.

Atualmente, o espaço recebe principalmente grupos de estudantes.