Encontre o seu imóvel

Veja a lista de apartamentos à venda em São Paulo

Santana/Guarulhos

Samba faz parte da história e da identidade dos moradores da zona norte

Quem diz que São Paulo é o túmulo do samba provavelmente não conhece a zona norte. Em um raio de cinco quilômetros, as quadras da Mocidade Alegre, Unidos do Peruche, Acadêmicos do Tucuruvi, Império da Casa Verde e Rosas de Ouro acumulam, juntas, 31 títulos dos últimos 50 carnavais da cidade.

"Modéstia à parte, aqui realmente é um reduto do samba", diz Carlos Alberto Caetano, 85, o Carlão, da Unidos do Peruche. "Quando cheguei, aqui era um quilombo", diz o sambista, franzindo a testa parcialmente coberta por uma boina preta.

A presença da população negra na região está diretamente associada ao surgimento das escolas, afirma o historiador Bruno Baronetti.

"A partir dos anos 1940, moradores pobres que viviam no centro tiveram que sair de lá devido à alta dos alugueis. Nessa época, muitas lideranças negras se organizaram para financiar terrenos na zona norte", explica.

Sentado no sofá de sua casa, na bairro da Casa Verde, Carlão recorda com detalhes o desenvolvimento da região.

"Tivemos a primeira quadra de samba. Era um terreno onde ferravam cavalos, estava cheio de patos, gansos. A gente mandava a criançada do bairro limpar e depois, à noite, eles vinham com os pais pra batucada", conta o fundador da Peruche, criada nos anos 1950 -uma das pioneiras da região.

Para Baronetti, à medida que as escolas cresceram, passaram a atrair mais investimentos. "Até os anos 1970, era uma região muito esquecida pelo poder público, mas como as quadras se tornam espaços de sociabilidade, os políticos começam a buscá-las atrás de votos. Em troca, faziam concessões."

NOVA GERAÇÃO

Atualmente, a região reúne 20 escolas e 15 blocos especiais, segundo o Censo do Samba de 2015, da SPTuris. Nas quadras das grandes agremiações, o que antes eram centenas de sambistas viraram milhares.

Apoiadas nas paredes amarelas da Acadêmicos do Tucuruvi, duas jovens esperam pelo diretor de carnaval da escola, Marcelo Coutinho.

"Os moradores vêm muito aqui atrás de trabalho. Damos preferência aos fornecedores antigos, do bairro, mas sempre sobra serviço para o pessoal", diz ele.

Além de trabalho, as escolas são pontos de encontro e diversão para os vizinhos, que não se queixam do barulho dos ensaios -na Tucuruvi, são dois por semana, das 22h às 23h30.

A alguns metros da quadra, está em construção o edifício You Tucuruvi, das incorporadoras Tibério e You,Inc. "Mais de 70% dos moradores são da região, conhecem e não reclamam", afirma o superintendente comercial da You,Inc, Felipe Coelho.

De acordo com o historiador Baronetti, o público dos ensaios hoje é mais variado: abarca pessoas de outras regiões e classes sociais. "As novas gerações se espalharam pela cidade", diz.

Carlão lamenta a mudança de perfil das escolas. "Tem muita gente nova que gosta do samba 'das antigas'. Mas não vejo mais aquela coisa espontânea, os partideiros [rodas de improviso]. As escolas estão bitoladas."

Bairros da Série