Em uma manhã abafada de domingo, Marcelo Burian, 43, senta na calçada em frente a sua casa, na Vila Maria. Sem camisa, ele acaricia calmamente um cachorro e observa o movimento da rua.

"Aqui é tranquilo, familiar. Todo mundo conhece todo mundo", conta ele, que nasceu e cresceu na região, onde as cenas típicas de cidades do interior se repetem pelas ruas cheias de casas e sobrados.

Os bairros da zona norte oferecem raros espaços de refúgio urbano dentro de São Paulo -resultado histórico do modo como a cidade se expandiu.

"No século 19, o crescimento foi em direção à zona leste; depois veio o avanço do sudoeste e do sul. O norte sempre foi menos visado", diz a pesquisadora do Observatório das Metrópoles da PUC-SP Mônica de Carvalho.

Mas, para ela, a área é a próxima na mira do mercado imobiliário: "Ainda há um estoque grande de terrenos, muitos espaços para verticalizar", diz. "O que falta é mais investimento público do outro lado do rio", completa, referindo-se ao Tietê, que divide o centro da zona norte.

No bairro do Limão, a mudança de perfil começa a se fazer presente. Lá, as torres residenciais dividem espaço com as casas, mas a atmosfera interiorana sobrevive, ainda que restrita.

Em uma travessa da rua Mandaqui, onde é construído o edifício Vila Jardim Casa Verde, da Even -um dos poucos lançamentos com unidades à venda no bairro- dois meninos brincam com um quadriciclo no meio da rua.

Ao lado, duas mães comemoram a tranquilidade. "Em dia de semana é uma loucura. São tantos carros que é até difícil sair de casa", diz a auxiliar de limpeza Nilzete Oliveira, 38.

Para a estudante Laura Pedroso, 17, que passou a infância andando de bicicleta pelas ruas do bairro, os novos moradores têm perfil diferente. "Não conversam muito", diz ela. "Mas o clima de interior continua, minha rua é cheia de senhores, o pessoal fica cuidando da vida dos outros", brinca.