Museu aberto do grafite chegou a ser considerado 'crime'
O relógio marcava 12h daquele 3 de abril de 2011. Um grupo de artistas de rua grafita uma sequência de vigas de concreto que sustentam a passagem dos trens da linha 1-azul do metrô, na avenida Cruzeiro do Sul, em Santana.
Alguém vê a cena e chama a polícia, que prende os artistas, entre eles, Binho e Presto, nomes conhecidos da arte urbana de São Paulo. A acusação? Crime ambiental.
Foi nesse dia que nasceu o Maau (Museu Aberto de Arte Urbana), que hoje reúne quase cem painéis com até seis metros de altura, feitos por mais de 150 artistas.
O grafiteiro Chivitz, 38, foi um dos 11 detidos. Ele conta que o local era visado como espaço de arte desde a década de 1990, mas que a intensa vigilância devido à presença da casa de detenção do Carandiru, que funcionou ali até 2002, frustrou as tentativas.
"Na semana anterior, trocamos e-mails, marcamos o horário e decidimos fazer o grafite naquele domingo."
Ninguém pensou que a iniciativa fosse virar caso de polícia. "Na delegacia, começamos a rascunhar o projeto. Levou um tempo até convencermos o delegado que não éramos pichadores", conta.
O grupo levou a ideia adiante, numa parceria com a Secretaria Estadual da Cultura, que fez a intermediação com o Metrô de São Paulo para o uso das colunas.
A ideia não era só imprimir desenhos no concreto, mas revitalizar o espaço, com ciclovia, iluminação e grama entre as pilastras, como se vê hoje por lá. Da detenção à confecção dos grafites, que seguem desde estação Santana do metrô até a Carandiru, foram seis meses.
Para Chivitz, o projeto carece de apoio público. "Falta ajuda da Secretaria de Cultura. Uma lata de spray custa 22 reais. A produção é cara."
A secretaria afirma que já apresentou aos artistas alternativas de financiamento ao projeto, via programas de incentivo à cultura.