Alphaville/Tamboré

Sem balada, jovens fazem festas em casa dentro dos condomínios de Alphaville

Raquel Cunha/Folhapress
Gustavo Scaringuella, 18, organiza festas em uma casa que pertence a seu pai em Alphaville
Gustavo Scaringuella, 18, organiza festas em uma casa que pertence a seu pai em Alphaville

A ausência de casas noturnas e a baixa variedade de bares em Alphaville gerou um tipo diferentes de festa na região: as "house parties", organizadas nas próprias casas dos jovens, dentro dos condomínios. Mais controlada, a opção acaba sendo a favorita também dos pais.

Alphaville concentra grande número de jovens. São 3.852 moradores entre 15 e 29 anos, segundo levantamento da Geoimovel com dados do IBGE. Todos distantes da vida noturna de São Paulo -a região está a cerca de 25 km de bairros como Vila Olímpia e Itaim Bibi, por exemplo.

"Quando a gente sai à noite em São Paulo, os pais precisam se organizar para nos buscar", diz Letícia Coelho, 16. Ela costuma frequentar as "house parties", também conhecidas apenas como "HPs", todos os fins de semana. São dois tipos de festa. As menores, entre amigos, são "sociaizinhas", com no máximo 20 pessoas. Já as maiores são "rolês" ou "rolezinhos" e agrupam de 100 a 400 convidados.

Fausto Bessa, 18, é um dos anfitriões do bairro. Seu pai se mudou para o Guarujá (SP) e deixou o filho morando sozinho em uma casa de três andares e 1.100 m² de área construída -ambiente propício para as "HPs". "O pessoal faz as festa porque não existe balada", diz Bessa, que já organizou dez "rolês" grandes.

Os eventos acontecem uma vez por semana e são organizados por um grupo que se reveza e se coordena pelo WhatsApp. As festas têm barmans, DJs e seguranças privados. A entrada geralmente é cobrada, com preços que giram em torno de R$ 25.

Fabio Braga/Folhapress
Bar do Juão, que atrai jovens de Alphaville durante a madrugada
Bar do Juão, que atrai jovens de Alphaville durante a madrugada

Antes das festas, pais e vizinhos conversam e chegam a um acordo em relação ao barulho. Segundo as normas, se mais de uma reclamação é feita, o morador pode levar uma multa que chega a dez vezes o valor do condomínio.

"Sempre tem um segurança acompanhando. São festas supervisionadas", diz a blogueira Patricia Scaringella, moradora de Tamboré e mãe de Guilherme, 14, e Gustavo, 18, que já organizou dois "rolês". "Evitam de a molecada ir a São Paulo durante a noite, é a melhor coisa."

POUCOS BARES

As opções para quem não deseja ir a uma dessas festas de condomínio se resumem a bares próximos aos centros comerciais, como a Água Doce Cachaçaria, dentro do shopping Tamboré.

Nas cervejarias mais frequentadas, como a HB Beer e o pub Black Horse, o cardápio de cervejas artesanais não chega a conquistar os mais jovens, que têm um lugar favorito: o Bar do Juão.

Juão, que é João Paulo Assis, tem 19 anos e divide a sociedade do bar com seu irmão, Fernando, 25. Eles receberam um investimento do pai, que é advogado, para o empreendimento. "O segredo é a cerveja barata perto da casa de todo mundo. Faltava um lugar desses", diz.

Até 22h, o bar é frequentado por trabalhadores que desejam se divertir após o expediente. Depois, aparecem os frequentadores que costumam manter o local aberto até 5h nos fins de semana.

Uma das clientes é a psicóloga Stephanie Frabetti, 25. Moradora de Alphaville há 16 anos, ela diz já ter visto bares abrirem e fecharem. "Mudam muito. Começam bons, mas depois ficam ruins", diz.

O comerciante Rômulo Silveira Cabral, 32, tenta uma explicação. "Quando o bar começa a ficar popular, começam a aparecer pessoas de fora da região -então o nível cai", afirma.

Bairros da Série