Jovens de Alphaville estimulam lançamentos de imóveis com até dois quartos
Foi o advogado Daniel Caetano de Lima, 28, que incentivou os pais a trocar um apartamento no Pacaembu, zona oeste de São Paulo, por uma casa em Alphaville. Aos seis anos, ele queria espaço para jogar futebol e brincar na rua.
Cresceu, então, em uma casa com quatro suítes, quintal, piscina, churrasqueira, forno de pizza e até um estúdio de música, onde ensaiava.
Mas, depois de se casar, em maio do ano passado, com a nutricionista Daphne Storopoli Tzortzis, 28, ele teve de se adaptar a um espaço menor: um apartamento de dois dormitórios e 150 m².
Mudou de espaço, mas não de vizinhança, já que o prédio também fica em Alphaville. "É perto da casa dos pais e dos amigos", diz. "Se em São Paulo as pessoas vão para bares quando querem se encontrar, aqui a gente faz coisas na casa dos outros. Nossos amigos estão casando e comprando apartamentos aqui."
O casal e os amigos fazem parte de um grupo crescente, os "filhos de Alphaville": jovens criados na região que procuram o primeiro apartamento para sair da casa dos pais, mas sem ir para longe.
A demanda se reflete na paisagem da região, onde pipocam outdoors de empreendimentos de um ou dois dormitórios -antes minoria.
Dados da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio) e do Secovi-SP mostram que imóveis com esse perfil respondiam, em 2010, por 49,7% das unidades lançadas em Barueri, incluindo Alphaville e Tamboré; em 2013, a fatia chegou a 86,9%.
A tendência segue o que foi observado na Grande São Paulo. "Até 2004, apartamentos de um quarto não eram 10% do mercado. Em 2013, 34% do que foi lançado em São Paulo tinha esse perfil", afirma Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP.
Nesse mesmo ano, em Tamboré, a Five Steel Engenharia lançou o Trix, empreendimento com um e dois dormitórios.
"Foi um fenômeno. As unidades mais caras, como os dúplex e as unidades de dois quartos, foram vendidas no dia do lançamento", diz a coordenadora de projetos da empresa, Victoria Antunes Herendy. Segundo ela, o perfil de compradores era de solteiros e casais jovens que haviam crescido em Alphaville.
Há 34 anos atuando na região, a construtora MPD sempre investiu em prédios com unidades de dois quartos ou mais. Começou a fazer apartamentos de um dormitório nos últimos quatro anos.
"Identificamos o nicho de filhos da região -60% dos compradores dos empreendimentos menores são 'filhos de Alphaville'", diz Débora Bertini, diretora da empresa.
A arquiteta Daniela Zuffo, 30, foi uma delas. Moradora de Alphaville há 25 anos, ela adquiriu com o noivo, o também arquiteto Luiz Felipe Camargo Gomez, 30, uma unidade de dois dormitórios, de 58 m², no começo do ano.
"Não gostaria de deixar a região. Tem segurança e toda a infraestrutura, como shopping, hospital, cinema", diz.
O preço é outro atrativo. Segundo dados do Secovi-SP, o valor médio do metro quadrado de apartamentos de um e dois quartos em Barueri (inclui Alphaville e Tamboré) foi, respectivamente, de R$ 6.010 e R$ 5.124 em 2015. No Itaim Bibi, zona oeste de São Paulo, plantas semelhantes custaram em média R$ 21,5 mil e R$ 14,3 mil o metro quadrado.
Raquel Cunha/Folhapress | ||
O advogado Danilo Caetano, 28, em seu apartamento em Alphaville |
VOCAÇÃO
Para alguns, a tendência dos apartamentos pequenos, no entanto, não muda a "vocação" das residências da região. Para a corretora Tais Rodrigues, moradora do bairro há 35 anos, os "filhos de Alphaville" não sabem o que é viver em prédio. "Eles moraram a vida toda em casa", diz.
"Apartamentos pequenos são imóveis de entrada. A vocação de Alphaville é de casas", afirma Bruno Vivanco, vice-presidente comercial da Abyara Brasil Brokers.
Daniel Lima concorda: "Se eu pudesse, moraria em casa. É estranho subir e descer com carrinho de compras, ter vizinhos embaixo, em cima".
O apartamento é um imóvel de transição até os filhos chegarem. "No futuro, a pretensão é mudar para uma casa em Alphaville", afirma.
Daniela Zuffo também optou pelo apartamento por causa dos custos mais baixos de manutenção, mas não esconde o desejo de voltar a uma casa. "Vou tentar me adaptar."