Lá onde eu moro: veja relatos de quem vive nos bairros de Campo Belo e Vila Mariana
Moradores da Vila Mariana e do Campo Belo contam como é a vida na região.
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ANA LENICE FONSECA, 63
Presidente do Projeto Leonilson
Isadora Brant/Folhapress | ||
Ana Lenice Fonseca, irmã do artista plástico Leonilson e presidente do Projeto Leonilson |
Eu moro na Vila Mariana há 58 anos, desde quando minha família deixou Porto Velho (RO). Quando chegamos, aqui só tinha casa, que, aos poucos, viraram prédios.
A minha impressão é de que tudo era mais amplo naquela época, você andava e via melhor a paisagem. Hoje, os prédios bloqueiam a vista.
Para mim, a Vila Mariana tem um fascínio. Gosto das redondezas, de encontrar gente conhecida. Digo que moro na Vila Mariana, não em São Paulo.
Minha mãe continua na mesma casa. Meu irmão, o artista plástico Leonilson (1957-1993), morou um tempo com ela e depois viveu em outra casa do bairro. Eu me casei e fui para um apartamento. O Projeto Leonilson também fica aqui. Faço até parte de um fã-clube da vila no Facebook, o "Vila Mariana Amo Você".
ZEZÃO, 44
Artista plástico
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
Artista plástico Zezão, com grafite em córrego que desagua no rio Tietê |
Sou novo na Vila Mariana, faz um ano que moro aqui. Vim da zona norte, da serra da Cantareira. O padrão de vida é totalmente diferente. Na serra não tinha nada perto, mas tinha a natureza, que é um ponto de equilíbrio.
Vim por um pedido da minha mulher, que quis ficar perto dos pais. Buscamos um local calmo e silencioso para morar, que fosse fora do fluxo de carros e do barulho. Encontrei uma rua silenciosa e bem localizada.
É um pouco arborizado e próximo ao parque Ibirapuera. Aqui tenho os metrôs Santa Cruz e Praça da Árvore; o transporte público é fácil.
Acho a culinária do bairro bem diversificada, isso é bom. Algo curioso na região é a quantidade de barbearias e salões de beleza: são muitos! Gosto daqui, mas gostaria de ter um jardim maior.
TARSILINHA DO AMARAL, 50
Curadora
Moro no Campo Belo há uns 20 anos. Antes vivia no Alto de Pinheiros (zona oeste), que também adoro.
Eu tenho dois trabalhos: cuido dos direitos autorais da minha tia-avó [a artista plástica Tarsila do Amaral] e sou instrutora de equitação da Hípica Paulista, que é ao lado do Campo Belo.
É um lugar muito bom. Aqui, estou próxima de tudo, tenho meus amigos, posso ir ao cinema. Tem a Santa Marcelina, uma padaria maravilhosa que vou sempre.
Além disso, é uma região arborizada. Moro em um apartamento no segundo andar e da janela consigo ver a copa das árvores, é muito agradável. Também dá para andar a pé e de bicicleta.
Para mim, morar no Campo Belo é a melhor opção. Tem muitos prédios novos, mas o bairro segue familiar.
SOUZA, 42
Barman do veloso
Me chamo Deusdete Neres de Souza, mas ninguém me conhece pelo nome. Agora se eu disser que sou o Souza, do Bar Veloso, na Vila Mariana, a chance de me reconhecerem será bem maior.
A região é meu endereço há 11 anos. Sou barman da casa desde sua abertura. Então circulo muito pelo bairro, que gosto muito. Eu digo que trocaria a Penha [zona leste] pela Vila Mariana para morar.
Aqui, eu acho um bom pão, bons bares e transporte para todo o lugar da capital. Tenho tudo bem perto de mim.
Todos os dias desembarco às 14h na Vila Mariana. Minha rotina é bem intensa. Chego a servir 1.500 caipirinhas por noite. Entre uma de caju com limão e outra de tangerina com pimenta-dedo-de-moça, o papo rola solto. Foi assim que eu fiquei conhecido por aqui. E assim seja.
FRANCISCO VILLANO, 99
Barbeiro
Nasci na rua Humberto I, sou o morador mais antigo da Vila Mariana e barbeiro há 86 anos. Tenho o meu negócio aqui na rua França Pinto há exatos 81 anos.
Todo mundo do bairro me conhece como seu Chiquinho. Tenho clientes que vem à barbearia há dezenas de anos. Nem sei fazer a conta.
Antigamente, na Vila Mariana, as ruas eram de terra e chovia muito na cidade. Com o passar do tempo, foi aumentando a quantidade de prédios e de carros nas ruas do bairro. Tem muitas pessoas agora, mas essa mudança não interferiu muito na região. Ainda tem aquele clima de cidade de interior, de bairro residencial com gerações de famílias antigas
A vida aqui é boa, não posso me queixar. O que eu mais gosto é das amizades que fiz, das famílias e dos vizinhos.