Campo Belo/Vila Mariana

Com clube e igreja, Campo Belo é ponto de encontro de imigrantes da Escandinávia

Não fosse pela língua ininteligível, os seis homens de cabelos grisalhos que conversam à mesa de um restaurante no Campo Belo passariam despercebidos.

Todos eles nasceram na Dinamarca e praticam o idioma quando se encontram no bar.

"Mas xingar, a gente xinga em português, porque os palavrões soam melhor", brinca Aksel Hounsgaard, 66.

O ponto de encontro é o Sven, que se autointitula o único restaurante escandinavo da capital paulista. O local fica dentro da sede da Associação Escandinava, na rua Morais de Barros desde 1979.

Bruno Santos/Folhapress
Aksel Hounsgaard, no centro, e Vagn Andersen, no canto inferior esquerdo, com amigos dinamarqueses em restaurante escandinavo
Aksel Hounsgaard, no centro, e Vagn Andersen, no canto inferior esquerdo, com amigos dinamarqueses em restaurante escandinavo

A entidade, bem como a colônia, porém, é mais antiga –criada há 125 anos, clama para si o título de clube de imigrantes com mais tempo em atividade da capital.

Fundada no bairro da Luz (centro), antigo reduto da pequena comunidade nórdica paulistana, a associação tinha, em seus primeiros anos, objetivos principais muito mais práticos: era encarregada de fornecer auxílio médico aos sócios que precisavam de cuidados com a saúde, e auxílio funerário às famílias –tanto para o enterro quanto para os ritos luteranos.

"Foi só depois que virou um clube de remo e, na sequência, um clube social", diz Jens Olesen, cônsul-geral da Noruega e sócio do clube.

Nos anos 1960, o espaço se mudou para a zona sul, para onde havia ido grande parte da comunidade nórdica, a princípio para a avenida Indianópolis.

A preocupação religiosa se refletiu também na construção da igreja escandinava, na mesma década, na rua Job Lane, também no Campo Belo.

Apesar da concentração de imigrantes no bairro, a comunidade escandinava –com entre 15 e 20 mil pessoas, a maioria suecos, segundo Olesen–rejeita considerar o local um reduto. "Moro em Itu, meu amigo em Cotia. Aqui é onde nos encontramos", conta Hounsgaard.

O engenheiro Vagn Andersen, porém, se mantém no Campo Belo. Atual tesoureiro da associação, ele passou temporadas no Brasil nos anos 1970, mas imigrou de vez só em 1981.

Ele não reclama da adaptação ao país e nem do novo idioma que precisou aprender: "Viemos de um país muito pequeno. Sempre tivemos que aprender línguas diferentes para nos comunicarmos com o mundo".

O mais velho do grupo reunido naquele dia, Erlin Baunsgaard, 87, resume: "Dinamarqueses sempre foram marinheiros. Meu pai era marinheiro. A gente se lança ao mar, gostamos de muitas aventuras".

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