Campo Belo/Vila Mariana

Mesquita em Santo Amaro serve de centro de apoio para refugiados que chegam a SP

A Mesquita da Misericórdia, em Santo Amaro, zona sul da cidade, é referência para refugiados sírios que chegaram ao país nos últimos três anos.

Um dos sete templos muçulmanos da capital, a mesquita fica em uma antiga chácara da comunidade islâmica de São Paulo, afastada do centro comercial do distrito de Santo Amaro.

O xeque (líder espiritual) Mohamad Albukai, 38, estima que atualmente 25 famílias sírias estejam alocadas próximas à mesquita.

"A comunidade islâmica da zona sul é considerada uma das maiores de São Paulo. Os primeiros imigrantes que chegaram acabaram chamando amigos e familiares. Depois que construíram o centro, a comunidade cresceu ainda mais, porque as pessoas procuram um lugar onde tem mesquita."

Bruno Santos/Folhapress
O sírio Talal Altinawi com sua mulher Ghazal Baranbo e os filhos Riad, Yara e a bebê Sara, na Mesquita da Misericórdia
O sírio Talal Altinawi com sua mulher Ghazal Baranbo e os filhos Riad, Yara e a bebê Sara, na mesquita

Construída em 1977 com a entrada direcionada a Meca (a cidade sagrada do Islã, na Arábia Saudita) e com exterior enfeitado com pastilhas coloridas, a mesquita está num terreno com cerca de 12 mil m², que também abriga um colégio e um espaço para realização de cursos e eventos.

É lá que, aos sábados, o sírio Ali Tantawi, 34, refugiado no Brasil há um ano e sete meses, ensina voluntariamente árabe e inglês para crianças. "Vou pelo menos três dias por semana na mesquita, sou amigo do xeque e de outras pessoas que frequentam o local. Almoçamos, fazemos churrasco e jogamos futebol juntos", diz.

O engenheiro Talal Altinawi, 42, vai todo dia a uma mesquita –a mais próxima de onde estiver. Antes, era no Pari (na região central), onde morava, mas, como se mudou para a zona sul, passou a frequentar o templo em Santo Amaro.

"Na Síria, a cada cem metros tem uma mesquita", conta ele, que chegou ao Brasil há pouco mais de dois anos.

No Brasil, Altinawi ganhou notoriedade ao vender pratos típicos de sua terra natal. Graças a um financiamento coletivo feito na internet, ele e sua mulher, Gazhal, vão abrir um restaurante típico.

Já Ahmad Al Zeidan, 27, e sua mulher, Ghadeer Albattarni, 27, contaram com a ajuda de integrantes da mesquita para se cadastrar no bolsa família.

O casal, que cursa mestrado em física na USP, está há um ano e sete meses no Brasil e mora no bairro Cidade Dutra, também na zona sul, onde frequenta a pequena Mesquita de São José.

"Sempre que tenho a sexta-feira mais livre, sem aula na universidade, vou a Santo Amaro. Esse encontro é muito importante para os muçulmanos", conta Al Zeidan.

DIFICULDADES

Apesar de ajudar na procura por moradia, realização de mutirão de saúde, doação de pães, conquista de visto e cadastro no bolsa família, mesquitas e ONGs alegam que não dão conta da demanda com o aumento do número de refugiados no Brasil.

De acordo com o Conare (Comitê Nacional pra os Refugiados), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, o número oficial de refugiados reconhecidos no Brasil é de 8.530. Destes, 2.097 são sírios.

"A estrutura de abrigo e o número de leitos para refugiados mudou muito pouco nos últimos anos, mas o fluxo de refugiados só aumenta, não tem vaga para todo mundo. Há um ano e meio, quem conseguia uma vaga na Casa do Imigrante permanecia por seis meses, hoje, fica no máximo por dois", explica Marcelo Haydu, fundador da Adus (Instituto de Reintegração do Refugiado).

Hussein El Kordi, 58, secretário-geral da Sociedade Beneficente Muçulmana de Santo Amaro, diz que a mesquita se adaptou para atender mais pessoas. "Na doação de pães e cestas básicas, damos preferência a mulheres, crianças, idosos e pessoas doentes que não conseguem trabalhar."

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