Clima de Campos do Jordão ajudou a tratar doentes no início do século 20
Reprodução | ||
Campos do Jordão nos anos 1940 |
Se hoje Campos do Jordão (SP) atrai turistas, na virada do século 19 para o 20 era a tuberculose que levava pessoas para a cidade.
No lugar dos antibióticos, que seriam criados apenas na década de 1940, o clima do lugar era um dos principais aliados no processo de cura dos doentes. A qualidade do ar servia como um ímã que atraia pacientes dispostos a ultrapassar as montanhas da serra da Mantiqueira pela Estrada de Ferro Campos do Jordão, projeto dos médicos Emílio Ribas e Victor Godinho, inaugurada em 1914.
"Antes do bondinho, os enfermos precisavam subir a serra no lombo de burros ou cavalos. Muitos morriam", explica o pesquisador Edmundo Ferreira da Rocha, 72, nascido na cidade e neto de um português que trabalhou na construção da ferrovia.
Os doentes eram internados em sanatórios ou pensões, caminhavam na geada e dormiam com as janelas abertas para respirar ar puro.
"Nove entre dez 'respirantes', como eram chamados os tuberculosos, morriam. Muitos dos que conseguiram se recuperar ficaram aqui e abriram comércio, participaram da vida política", diz Rocha, lembrando que, até a implantação da linha férrea, Campos do Jordão não chegava a 4.000 habitantes.
INÍCIO DE TUDO
No século 19, o município viveu uma fase campeira, com propriedades rurais. Uma delas pertencia ao brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão e era chamada de "os campos do Jordão".
Ele começou a povoação do local, em 1874. Próximo ao Rio Imbiri, o povoado recebeu o nome de São Matheus do Imbiri. Depois, virou Vila Velha e Vila Jaguaribe, em homenagem ao médico cearense Domingos José Nogueira Jaguaribe. Foi ele quem inventou o slogan "Campos do Jordão, a Suíça brasileira", para enaltecer o clima, as águas minerais e as propriedades terapêuticas da região.
Com a descoberta dos antibióticos e o zoneamento municipal, que restringiu os sanatórios, o lugar virou, aos poucos, uma estância turística. "Famílias tradicionais de São Paulo construíram casas de campo na cidade", diz Antônio Costela, 73, diretor do Museu Casa da Xilogravura.
Nos anos 1940, o município ganhou o Parque Estadual (também conhecido como Horto Florestal) e o Grande Hotel, que já abrigou um cassino e atualmente é um hotel-escola do Senac.
Na mesma década, foram inaugurados outros dois símbolos da hotelaria, o Vila Inglesa e o Toriba. O primeiro hospedou a seleção brasileira de futebol que se tornaria bicampeã mundial em 1962, enquanto o segundo viu sua arquitetura de estilo alpino influenciar a zona turística.
"Minha mãe, que já foi governanta do Toriba, conta que o hotel tinha máquinas de raio-X para impedir que tuberculosos se hospedassem por lá", diz o empresário Ricardo Moura Gonçalves, 38.
O turismo continuou a se expandir. "Sempre houve particularidades. O foco dos viajantes já foi a malharia e a música. Hoje, é a gastronomia", afirma Gonçalves.