Itaim/Vila Olímpia

Prédios espelhados e vãos-livres marcam arquitetura da Faria Lima

Raquel Cunha/Folhapress
O Faria Lima 3500, prédio que tem a forma de trapézio invertido
O Faria Lima 3500, prédio que tem a forma de trapézio invertido

Edifícios espelhados, torres envidraçadas, vãos-livres gigantes, jardins verticais e o maior número de helipontos da cidade. A região da avenida Brigadeiro Faria Lima, o endereço comercial mais caro do país, surgiu de diversas iniciativas da prefeitura de São Paulo, a maioria delas frustradas, de tentar organizar a expansão urbana e viabilizar uma infraestrutura de serviços e transporte público.

Onde hoje estão a sede das maiores empresas brasileiras e dos escritórios mais badalados da cidade foi, até o início do século passado, uma área de várzea do rio Pinheiros. O traçado atual só foi possível após a desapropriação de mais de cem sobradinhos, muitos na antiga rua Iguatemi, cujos antigos donos discutem o valor das indenizações até hoje na Justiça.

A primeira expansão da avenida, entregue em 1970, foi das ruas Teodoro Sampaio, em Pinheiros, até a Amauri, onde hoje estão restaurantes bem avaliados. A via levou o nome do brigadeiro Faria Lima em homenagem ao prefeito de São Paulo, morto em 1969, que liderou as obras na época.

Maria do Carmo/Folhapress
O prédio Pátio Malzoni, erguido em cima da Casa Bandeirista; vão central, foi a solução para preservar a construção
O prédio Pátio Malzoni, erguido em cima da Casa Bandeirista; vão central, foi a solução para preservar a construção

A obra foi capitaneada pelo shopping Iguatemi, projetado pelo escritório Aflalo Gasperini Arquitetos, que assina sete edifícios na avenida. O empreendimento foi fundado em 1966 na então rua Iguatemi, e precisava de uma avenida estruturada.

"Surgiram depois prédios residenciais nas ruas perpendiculares, com apartamentos gigantes, conhecidos como 'apartamento de avô' por terem duas suítes: uma para o dono e outra para os netos. Depois vieram os prédios para famílias, os menores para solteiros e, agora, surgem empreendimentos de altíssimo padrão com vista para o parque do Povo", diz a arquiteta Grazzieli Gomes, sócia do Aflalo Gasperini.

O visual externo também se transformou com o passar do tempo. Nos anos 1980, antes dos vidros espelhados, vãos e helipontos, a arquitetura era inspirada na das construções da avenida Paulista. "Tanto que o lugar era chamado de nova Paulista", conta a arquiteta.

OPERAÇÃO FARIA LIMA

A segunda fase de expansão veio com o prolongamento da avenida Faria Lima em 1994, iniciada pelo então prefeito Paulo Maluf (ex-PDS, atual PP) e depois por Luiza Erundina, então prefeita da cidade pelo PT (hoje, PSOL).

À época, a prefeitura desistiu de ligá-la à avenida dos Bandeirantes, optando por levá-la das avenidas Cidade Jardim, próximo ao edifício Dacon (veja acima), até a avenida Nova Cidade, que surgiu com a canalização do antigo córrego Uberaba e construção da Helio Pellegrino.

No lado oposto, foi construído o trecho que vai da Teodoro Sampaio até o largo da Batata. As obras foram até 1997 e implicaram na demolição de dezenas de imóveis de ambos os lados.

A chamada Operação Urbana Faria Lima, que permitiu a verticalização em troca de recursos para a infraestrutura local, levou à construção de edifícios modernos com vidros espelhados, que hoje lembram o skyline das áreas renovadas de Xangai (China), as docklands de Londres (Reino Unido) e o La Défense de Paris (França).

Entre os edifícios espelhados que mais chamam atenção, estão o Pátio Victor Malzoni, cujo vão central permite ver a Casa Bandeirista, imóvel do século 18 tombado. No ano passado, esses prédios chegaram ao largo da Batata com o edifício Teoemp, que recebeu a seguradora SulAmérica. O projeto do edifício, que parece um queijo fatiado, é do Aflalo Gasperini.

A expansão da via, porém, foi criticada pela estrutura precária de transportes públicos. Na região, não há metrô (a única estação foi inaugurada em 2010, no largo da Batata, o extremo norte da Faria Lima). Há apenas redes de ônibus, trens e, agora, uma popular ciclovia.

"A Faria Lima está hoje consolidada; não tem mais terrenos disponíveis", diz Giancarlo Nicastro, sócio da consultoria Siila.

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