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Torcida organizada Bengala Azul reúne aposentados fanáticos pelo São Caetano

Karime Xavier / Folhapress
SÃO PAULO / SÃO PAULO / BRASIL - 08/03/2016 -16 :00h - Retrato da torcida Bengala Azul. Torcida organizada do São Caetano composta só por velhinhos. ( Foto: Karime Xavier / Folhapress) . ***EXCLUSIVO***MORAR
Membros da Bengala Azul, torcida organizada do São Caetano composta só por maiores de 60 anos

Para ser sócio da Bengala Azul, torcida organizada do São Caetano, na Grande São Paulo, tem que ser aposentado e ter mais de 60 anos. No mínimo. "É preciso ter tosse e reumatismo também", brinca Agostinho Folco, 82, presidente da torcida.

A ideia de montar o grupo surgiu durante um jogo de dominó, em 1998. Os amigos, que já batiam cartão em treinos e partidas da equipe no estádio Anacleto Campanella, só oficializaram a união.

"Nós já dizíamos que éramos os 'Pé na Cova' ou os 'Torcedores do INSS', mas como havia um ou outro que usava bengala acabamos adotando esse nome", conta. O "azul" veio do apelido do time, conhecido popularmente como Azulão.

Hoje, são 625 associados, quase todos homens –na última contagem, havia 22 mulheres. Agostinho calcula que pelo menos 300 "bengalas" são frequentadores assíduos dos jogos e até viajam com o time para outros Estados e países da América Latina.

QUE FASE

Atualmente, o São Caetano passa por uma fase ruim com sucessivos rebaixamentos nos últimos quatro anos. O clube não vai disputar nem sequer a Série D do Campeonato Brasileiro e amarga a série A2 do Campeonato Paulista, segundo nível do estadual.

Mas os "bengalas" não perdem a esperança de dias melhores e relembram com saudosismo quando o time foi vice-campeão do Brasileiro, em 2000 e 2001.

"É uma fase, todo time grande passa por isso. O São Caetano cativou o Brasil na década passada, derrubando gigantes do futebol. Fomos vice-campeões brasileiros duas vezes e levamos 40 mil pessoas ao Pacaembu para uma final de Libertadores", relembra o ex-maqueiro do clube e atual integrante da Bengala Azul, Antônio Guilherme dos Santos, 82.

O técnico do time, Luiz Carlos Martins, que luta para tirar equipe da má fase, conta com a bênção e os conselhos dos mais velhos.

"Precisamos de gente como eles que apoiam e comparecem sempre."

Em troca do apoio, o clube oferece ingressos de jogos de graça para a torcida, além da estrutura poliesportiva do clube para aulas de hidroginástica, recreação e de lazer.

Até um tempo atrás o time também mandava uma enfermeira para acompanhar os "bengalas" na arquibancada.

"Vai que um de nós enfarta em um gol do Azulão", diz Getúlio Bueno Silva, 65, um dos mais filiados mais novos. Como nunca ninguém passou mal, a enfermeira não foi mais necessária.

Segundo Getúlio, a Bengala Azul já teve mais de 650 associados, mas vem diminuindo ano a ano. "Somos a única torcida do Brasil que não cresce, já que é comum os integrantes morrerem."

ORGANIZADA E PACÍFICA

Folco lembra que nesses anos de torcida organizada eles nunca se envolveram em brigas. Pelo contrário, a relação entre os torcedores do azulão e as outras organizadas é a melhor possível –sem perder a piada, claro.
"Quando encontramos o pessoal do Corinthians, Palmeiras e São Paulo ficamos numa boa. Quando o Azulão marca, ninguém grita gol, só aplaude para a dentadura não cair", diz Getúlio.

Agostinho diz que também há um bom relacionamento entre a Bengala Azul e as outras organizadas do clube (Gladiadores, Comando Azul e Torcida Jovem), mas eles evitam ir juntos a eventos.

"A gente se dá muito bem com a molecada, mas os jovens têm muita rivalidade com outras torcidas. Sempre que viajamos com o time contratamos um transporte só para nós", disse.

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