Paulista/Centro

Casal de chefs apaixonado pelo centro atrai público de outros bairros para comer na região

A chef Janaina Rueda diz ter 41 anos e meio de centro. Só traiu as origens por um breve período, quando foi morar com o marido, Jefferson, 39, na zona oeste.

Desde o começo dos anos 2000, ele trabalhou nos restaurantes Pomodori, no Itaim Bibi, e Attimo, na Vila Nova Conceição, ambos bairros famosos pelas casas badaladas e pela clientela endinheirada.

Mas Janaina, querendo voltar ao seu centrão, pedia para o marido abrir algo no local.

"Eu não tinha medo de vir, mas não sabia se minha clientela do Itaim estaria também disposta", conta o cozinheiro.

Teimosa, a mulher, conhecida pelo apelido dona Onça, insistia. "Eu falava: 'O centro é cafona, posso fazer comida na panela de pressão que ninguém vai ligar'", diz, citando um pecadilho gastronômico.

Raquel Cunha/Folhapress
SAO PAULO - SP - 27.04.2016 - Especial Morar bairros centrais que tem em sua maioria moradias destinadas a solteiros ou casais com apartamentos pequenos de um dormitorio ou estudio. O casal de chef Jeferson e Janaia Rueda sao moradores do centro e mantem cada um seu restaurante no bairro, Janaia com o Dona Onca que fica no Copam e Jefferson com A Casa do Porco. (Foto: Raquel Cunha/Folhapress, SUP-IMOVEIS) ***EXCLUSIVO***
O casal de chefs Jefferson e Janaína Rueda, que tem restaurantes no centro

Pois a teimosia venceu e o casal alugou um imóvel aos pés do edifício Copan. No Bar da Dona Onça, Janaina pôs uma mistura de influências na panela de pressão e, com Jefferson por três meses na cozinha, viu a clientela da zona oeste invadir o centro.

"Tinha gente que chegava aqui de motorista e segurança", lembra Janaina.

O plano dela de voltar às origens ficou completo quando o casal resolveu morar no mesmo Copan –onde vivem até hoje, com os dois filhos. "Num 'guentei', atravessei a fronteira", diz Jefferson, reforçando o sotaque de São José do Rio Pardo (SP).

Hoje, ele se considera do centro desde criancinha. "Apesar de ser caipira, sou do centro. Aqui é como no interior, tudo é mais verdadeiro."

O chef se afeiçoou tanto à região que, quando chegou, começou a paquerar uma esquina próxima de casa, onde se costuma reunir a típica e diversificada população local: pedintes, travestis, "noias", engravatados, baladeiros da casa noturna Love Story.

Em outubro passado, depois de sair do Attimo e deixar de vez a zona oeste, Jefferson abriu A Casa do Porco. Na esquina das ruas Araújo e General Jardim, de novo o casal Rueda viu gente que não ousava entrar nesse território passar a frequentar a região.

As filas, comuns no Dona Onça, se formaram também n'A Casa do Porco: de gente que quer tomar cerveja com torresmo a gourmands habituados a menus-degustação.

"Tem grã-fino, caipira, artista, gente que vem de outras cidades para comer aqui", diz o chef, que tem até posado com os clientes para selfies.

Uma delas, recente, foi com Cassia Rampardo, brasileira casada com um italiano, dona de uma pousada na Toscana que recebe muitos enoturistas –foi dos clientes viajados que ela ouviu maravilhas sobre "um novo restaurante no centro de São Paulo".

"É mesmo maravilhoso", disse ao chef, antes da selfie.

Para deixar engravatados, turistas, "foodies" e boêmios mais à vontade na rua, o casal Rueda está preparando uma espécie de guia de sobrevivência do centro.

As dicas vão desde "não dar bandeira" (para não ser furtado) a bares, cafés, galerias e outras atrações para se distrair enquanto se espera o lugar à mesa.

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