Perdizes/Vila Leopoldina

Berço do rock nacional, Pompeia gerou de 'Os Mutantes' aos primeiros festivais de punk de SP

Rua Venâncio Aires, Pompeia, São Paulo. Esse foi o endereço escolhido pelo casal César Dias Baptista e Clarisse Leite para criar seus três filhos. Mal sabiam que começava ali um dos principais capítulos da música nacional, que ajudaria a colar no bairro da zona oeste o apelido de berço do rock paulista.

No casarão da família, assentado em um terreno espaçoso, os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias cresceram e travaram contato com o rock e com canções dos Beatles. Rita Lee entraria na história, dando origem à banda Os Mutantes, nos anos 1960.

O lar dos Baptista era o centro nervoso da área, onde a molecada se reunia para ouvir discos e tocar violão. Mas não apenas isso. Ligado em ciência, Cláudio César, irmão mais velho do clã, começou a construir instrumentos nos fundos da casa, atraindo curiosos e compradores e fazendo jus ao apelido de professor Pardal.

Raquel Cunha/Folhapress
SAO PAULO - SP - 23.02.2016 - Especial Morar Perdizes. O bairro de Perdizes é caracteristico pelo movimento rock n roll na decada de 80. O musico e Guitarrista, Clemnte Tadeu do Nascimento, 53, foi um dos pioneiros do punk rock no Brasil organizou diversos shows na regiao. (Foto: Raquel Cunha/Folhapress, SUP-IMOVEIS) ***EXCLUSIVO***
O músico e Guitarrista Clemente Nascimento, 53, foi um dos pioneiros do punk e organizou diversos shows

Na casa vizinha à dos pequenos Mutantes, morava -e mora até hoje- outro personagem dessa trajetória: o celebrado guitarrista Luiz Carlini, fundador da banda Tutti Frutti, que tocou com Rita nos anos 1970. A parceria rendeu, entre outros, o clássico álbum "Fruto Proibido".

"Em um espaço de duas quadras, nasceram Os Mutantes, a Tutti Frutti e a Made in Brazil. Virou meio que um 'point'", conta Carlini à Folha, dias depois de se apresentar com o Ultraje a Rigor na abertura do show dos Stones no Rio, no sábado (20).

COMEÇO DO FIM

No ano de sua inauguração, 1982, o Sesc Pompeia recebeu bandas como Inocentes, Ratos de Porão, Cólera e Olho Seco. Era o festival "O Começo do Fim do Mundo", que apresentou o som sujo e acelerado dos punks paulistanos para o grande público.

Clemente Tadeu Nascimento, fundador dos Inocentes, viu tudo de perto.

"Ninguém sabia como seria. Para se ter uma ideia, eles nem pensaram em dividir o tempo das bandas. Era todo mundo completamente inexperiente", afirma.

Em 1986, já "mais limpinhos e bonitinhos" e contratados pela gravadora Warner, os Inocentes escolheram o estúdio Mosh, na época na Pompeia, para gravar o disco "Pânico em SP".

O apocalipse punk também marcou a consolidação do Sesc Pompeia como espaço amigável a bandas de fora do circuito comercial.

Nesse espírito, o caminho de Clemente voltou a se cruzar com o do espaço cultural.

De 2000 a 2003, ele foi responsável por escolher as bandas que tocariam no "Musikaos", programa da TV Cultura gravado no Sesc e apresentado por Gastão Moreira.

"A gente morava lá. Fizemos uma bagunça desgraçada e lançamos muita gente: Cidadão Instigado, Pitty e CPM 22. Foi a primeira vez que a Cachorro Grande apareceu na televisão."

TRADIÇÃO

Presidente do Centro Cultural Pompeia, Cleber Falcão Carneiro, 50, atua como uma espécie de guardião da tradição roqueira do bairro.

Todo ano, ele organiza a Feirinha da Pompeia, que, em 2016, chega a sua 29ª edição. São oito palcos, três dedicados ao rock. E nada de covers, só música autoral.

"Tenho compromisso com essas novas gerações", conta, enquanto espera surgir alguma revelação do rock na Pompeia atual.

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