Santana/Casa Verde

Berço de Emicida, Projota e Kamau, região foi palco de artistas da rima

Raquel Cunha/Folhapress
Os rappers Rashid e Kamau, na subprefeitura do bairro Tucuruvi
Os rappers Rashid e Kamau, na subprefeitura do bairro Tucuruvi

"Você sabia que existe rap no Lauzane?". Foi colando cartazes com essa pergunta pelo bairro Lauzane Paulista, na zona norte de São Paulo, que Projota, 30, e outros rappers da região lotaram as primeiras edições do evento "Rap no Lauzane", organizado desde 2008.

"No começo, eu abria meu portão, colocava caixas de som na calçada, convidava outros artistas e fazia um show", diz o rapper.
Com o tempo, a fama e o público cresceram. "Quando percebemos, já era um exército", conta Rashid, 28.

Hoje, esse exército é encabeçado pelos dois, além de Emicida e Kamau, todos da zona norte. "Talvez seja uma coincidência tantos nomes do rap saírem daqui, mas também pode ser pela força que cada um de nós deu para o outro. Foi um aprendizado em conjunto", diz Projota.

Para Kamau, 40, que nasceu e cresceu no Tucuruvi, a região demorou um pouco a lançar referências e tendências no estilo. "Cada região da cidade já teve suas fases, e a zona norte demorou um pouco mais para aparecer."

Segundo Ricardo Teperman, músico e professor da Faculdade Santa Marcelina, essa nova geração é diferente de ícones do rap de São Paulo, como Racionais MC's, que começou a carreira no fim dos anos 1980 e tem dois integrantes da zona sul e dois da zona norte.

"É uma geração que cresceu num bom momento da democracia brasileira. Hoje têm cerca de 30 anos, tiveram mais liberdade de expressão e mais acesso a bens de consumo. As pautas ainda são fortes, mas há menos enfrentamento", diz Teperman.

"Apesar de também curtir muito o rap 'gangsta' [gênero com letras mais agressivas, sobre violência e marginalidade], somos mais livres nos temas", completa Rashid. Tanto ele quanto Projota e Emicida têm músicas que falam de relacionamentos.

Nascidos e criados na mesma região, os rappers também fazem trabalhos juntos. Kamau, por exemplo, tem alguns projetos com o Laboratório Fantasma, produtora e gravadora criada por Emicida. Kamau e Rashid também tem um CD em conjunto.

Mas, se a zona norte impulsiona o rap, o contrário também é verdade. No bairro do Limão, o Projeto Caminho do Rap promove shows, eventos e debates.

"Eu pude conviver e contribuir um pouco em fases diferentes com a comunidade ao redor da Fundação Gol de Letra, na Vila Albertina. Lá descobri um grande talento que é o Dieguinho Beatbox, que fez parte junto comigo do grupo Simples", diz Kamau.

Para Projota, o ritmo deu uma nova perspectiva à região. "Já realizei projetos na zona norte toda, em vários locais. O rap deu um novo ponto de fuga aos garotos."

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