Tatuapé/Mooca

Comerciantes elaboram novas versões para a receita dos cannoli, marca da Mooca

Reinaldo Canato/Folhapress
Detalhe dos "canudos" da barraca de Antônio Garcia, na Mooca
Detalhe dos "canudos" da barraca de Antônio Garcia, na Mooca

"Olha a 'pastitina labaritina', o beijo da moça, a língua da sogra, o cannoli", entoavam os antigos vendedores do doce italiano na Mooca dos anos 1960.

A lembrança é de Antônio Garcia, 66, um dos responsáveis por manter na zona leste a tradição do canudinho de massa frita recheado de creme de ricota -daí o nome "cannoli", plural de "cannolo" ("canudo", em italiano).

Garcia trabalha vendendo o doce há 46 anos no estádio do Juventus, time mooquense. Descendente de portugueses e espanhóis, ele aprendeu a receita siciliana ainda garoto com um casal de italianos que vivia no bairro e fornecia o produto aos ambulantes da época. O menino de então dez anos trocava mão de obra por alguns doces para vender.

Foi no estádio Conde Rodolfo Crespi, na rua Javari, que ele encontrou seu filão: a torcida juventina. Por jogo, ele vende cerca de 500 unidades do doce, recheado com creme de baunilha ou chocolate (R$ 4 cada um).

"Já vendi cannoli para três ou quatro gerações de famílias. Todos me conhecem e têm um carinho muito grande por mim. Fazer esse doce é um dom que Deus me deu", diz Garcia.

FORA DO ESTÁDIO

Graças a Garcia, o doce saiu do estádio e foi parar no cardápio da tradicional cantina italiana Castelões, no Brás, também zona leste.

O proprietário Fabio Donato, 43, resgatou uma receita de família a pedido do pai, João Donato, que era fã do exemplar vendido no estádio juventino. "Fui procurar num livro antigo da minha bisavó e comecei a fazer para ele. Depois, acabou entrando no cardápio", diz Donato.

A casa serve o canudo recheado com creme, chocolate ou ricota (R$ 22 o trio; R$ 8 a unidade). "Eu mesmo faço, ninguém põe a mão. Não é difícil de fazer, mas tem que ter cuidado", afirma Donato.

'CAKE BOSS'

Na doceria Di Cunto, na Mooca, o doce é preparado desde os anos 1950, mas só recentemente ganhou versões sem o tradicional recheio de ricota: creme de baunilha, chocolate, nozes e doce de leite com coco (R$ 7,80).

O último fez tanto sucesso que alavancou as vendas da padaria em 2015, tornando-se o produto mais vendido da casa. Lá, cerca de 2.000 unidades do canudo são preparadas semanalmente.

"O cannoli já ultrapassou a bomba de chocolate", diz Marco Jr., gerente de marketing da doceria.

Ele cita o Juventus e o programa "Cake Boss", do apresentador e chef americano Buddy Valastro, como importantes divulgadores do doce.

Foi na Di Cunto que Teresinha Rosa de Castro, 60, experimentou o canudinho italiano pela primeira vez. Há dois anos, ela prepara o cannolo servido no restaurante de seu genro Fabrizio Demuru, chef do Cucina Si Italianíssimo, no Tatuapé.

Buscou então outra fórmula que mantivesse a tradição siciliana. "A receita é de uma tia italiana do Fabrizio e vem de gerações. É simples, faço com ricota e frutas cristalizadas", conta. A porção com três canudos custa R$ 16,90.

ONDE COMER

Antônio Cannoli
Onde: estádio Conde Rodolfo Crespi (r. Javari, 117, Mooca), em dias de jogo; encomendas pelo tel. 99330-6630
Quanto: R$ 4 por unidade

Castelões
Onde: r. Jairo Góis, 126, Brás; tel. 3229-0542 (seg. a dom., 12h às 16h e 18h30 à 0h)
Quanto: R$ 8 e R$ 22 (trio)

Cucina Si Italianíssimo
Onde: r. Itapura, 1.582, Tatu-apé; tel. 4563-2971 (qua. e
qui., 12h às 15h30 e 19h às
22h; sex. até 23h; sáb., 12h30 às 23h; dom. 12h às 16h)
Quanto: R$ 16,90 (trio)

Di Cunto
Onde: r. Borges de Figueiredo, 61, Mooca; tel. 2081-7100 (seg. a dom., 12h às 16h)
Quanto: R$ 7,80

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