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Zona leste concentra um terço dos times do futebol de várzea paulistano

Adriano Vizoni/Folhapress
Jogadores do Central Leste, em dia de jogo contra o Master Santa Terezinha, em Itaquera
Jogadores do Central Leste, em dia de jogo contra o Master Santa Terezinha, em Itaquera

A zona leste de São Paulo não é só a região mais populosa da capital, com cerca de 4 milhões de habitantes. É também o lugar do futebol de várzea paulistano. São pelo menos 480 times de um total de 1.440 em toda a capital, segundo a Liga Paulistana de Futebol Amador (LPFA).

"Esses números incluem só os times filiados à Liga. Se contarmos também os não filiados, estimamos mais de 3.000 em São Paulo e quase mil deles só na zona leste" afirma José Astolphi, presidente da entidade.

Um desses times é o Central Leste, fundado em 1981. Antes mesmo da fundação, os membros do time se uniam todo fim de semana para capinar o mato de um campo improvisado, em Itaquera.

"Sabe o que me levou a criar um time que não tinha sede, uniforme, camisa nem condições de disputar campeonatos? A paixão", conta José Calazan Neto, 57, presidente do clube.

Hoje, o Central tem dois times, os Veteranos e o Central Sport, para os mais jovens.

Cosmo Pereira Soares, 54, é do quadro dos veteranos e se orgulha de ainda jogar 90 minutos. Lateral esquerdo e dono de uma empresa de transporte aéreo, ele tem passagens pelo futebol amador das categorias de base do Corinthians e do Juventus.

Como a maioria dos jogadores de várzea, ele só entra em campo aos fins de semana e não ganha para defender o time. Segundo a Liga Paulistana de Futebol Amador (LPFA), quando recebe, o jogador leva de R$ 150 a R$ 400 por partida -dinheiro que, em geral, vem de patrocínio do comércio local.

Na manhã do domingo de Páscoa, cerca de 70 torcedores compareceram ao amistoso Central Leste e Master Santa Terezinha, no campo da rua Narciso Araújo, em Itaquera. Alguns torcedores tomaram conta dos alambrados, enquanto outros ficaram atrás do gol aos gritos de "juiz ladrão" e "perneta".

A partida terminou empatada em 2 a 2. "Jogar na Várzea não é fácil, tem time que catimba bastante, mata a jogada à toa, mas nossa equipe é entrosada e ninguém é fominha", disse Cosme.

O promotor de vendas e técnico do Master Santa Terezinha, Daniel Rodrigues da Silva, 57, ficou feliz com o placar. "O resultado foi excelente para nós, que somos visitantes. O Central Leste é muito forte na região."

TÍTULOS

A tradição de várzea da zona leste é antiga. Na Copa Kaiser, apelidada de "Copa do Mundo da várzea", todas as atenções estavam concentradas nos times da zona leste.

A região tinha 50% dos títulos do torneio, que começou nos anos 1990 e deixou de ser realizado em 2014 por falta de patrocínio.

Em 2015, foi a vez de a Federação Paulista de Futebol (FPF) anunciar que a Copa São Paulo de Futebol Amador não seria realizada. Em nota, a federação disse que o torneio não aconteceu por falta de times participantes.

Sem campeonatos maiores, os times passaram a promover competições locais -cada uma com regras diferentes. Em alguns, árbitros são contratados para apitar; em outros, um dos jogadores vira juiz de improviso.

José Calazan Neto, do Central Leste, está organizando um campeonato com o nome do próprio clube.

"Em 2015, fomos campeões invictos da Copa Kizomba e recebemos R$ 5.000. Quero organizar a Copa Central Leste com clubes de vários bairros. Com o dinheiro da inscrição, vamos pagar um prêmio melhor para o vencedor."

A Liga Paulistana também promove o próprio campeonato. Em 2016, o evento chega à 8º edição, com cerca de mil times de toda a cidade.

"Esperamos que algum time da zona leste chegue pelo menos às semifinais", afirma Astolphi.

A Liga recebe R$ 1,3 milhão pela Lei de Incentivo, do Ministério dos Esportes, porém não há premiação.

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