Moradores preferem o conforto dos condomínios à vida na cidade grande
Raquel Cunha/Folhapress | ||
Marcelo e Monica Storto com suas três filhas |
O trânsito na Castello dificulta, mas não é por isso que quem mora em Alphaville pensa em sair de lá.
"Não saio daqui de jeito nenhum. Alphaville é imbatível", diz Marcelo Storto, 39, empresário, que chegou ao bairro aos dois anos de idade e nunca mais partiu.
Storto ilustra a realidade de muitos moradores que têm suas vidas, desde as relações sociais até o trabalho, passando pelo lazer e a educação dos filhos, estruturadas essencialmente em Alphaville.
Ele, que vive com a mulher, também de Alphaville, e as filhas numa casa do Residencial 1, valoriza a proximidade entre os moradores.
"As pessoas se conhecem, sobretudo quem tem filhos pequenos, e frequenta as áreas comuns dos condomínios. É muito bom", afirma.
A segurança e a tranquilidade dos residenciais são sempre lembradas como vantagens do lugar, principalmente por aqueles que vieram de São Paulo.
A psicóloga Maria Helena Moreira Lima, 64, trocou o apartamento na Vila Nova Conceição por uma casa em Alphaville em 1986, quando a região "não tinha nem supermercado". Hoje ela não sente falta de nada. "Meus amigos e minha família estão aqui. Faço quase tudo aqui."
COMUNIDADE
É difícil encontrar semelhanças entre favelas e os condomínios de Alphaville. Uma delas, contudo, é o sentimento de comunidade.
Carlos Idoeta, 65, administrador de empresas, mora desde 1989 no Residencial 9, do qual foi diretor e onde ajudou a organizar inúmeros eventos -de festas juninas e de natal a Halloweens.
"São mais de 2.000 pessoas morando no residencial, não dá para ser amigo de todo o mundo. Mas você acaba conhecendo umas cem pessoas, vira e mexe tem uma reunião. Ainda existe uma ideia de comunidade", diz.
Ele também foi diretor-presidente do Alphaville Tênis Clube, "centro de convivência da região", nas palavras do gerente geral Reginaldo de Lima Barros, 62.
É o clube, aliás, que abriga o principal evento esportivo e social de Alphaville; a Olimpíada Inter Alphas, que ocorre a cada dois anos e que reuniu, no ano passado, 3.500 participantes.
Segundo Storto, um dos idealizadores do evento, o objetivo era unir os moradores de Alphaville em torno do esporte e de boas práticas. Ele lamenta, contudo, a dimensão alcançada.
"Cresceu um pouco demais. A competitividade acabou enfraquecendo o foco inicial do evento".
SEMPRE OS MESMOS
A tranquilidade, o contato com a natureza e o silêncio são sinônimos, para quem mora em Alphaville, de qualidade de vida. Há, contudo, quem não veja com bons olhos a intensa convivência entre moradores.
O advogado Márcio Novaes Cavalcante, 41, morou com os pais em Alphaville durante a adolescência, se mudou para São Paulo depois da faculdade e voltou para Alphaville seis anos.
Quatro de seus cinco filhos estudam na região. Entretanto, ele se preocupa em diversificar as relações sociais das crianças. Para isso, a família frequenta a igreja presbiteriana e o clube Pinheiros, em São Paulo.
"Procuramos conviver com gente de fora. É importante sair da bolha", afirma Cavalcante.