Baladeiros da Vila Olímpia trocam casas noturnas por festas 'secretas'
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Happy hour em bar do Itaim Bibi na quinta-feira (27) |
Na casa noturna Black Cavalados, à r. Bandeira Paulista, no Itaim, só entram clientes conhecidos dos proprietários ou que estejam "de acordo com o perfil do lugar": gente bem vestida, disposta a gastar até R$ 3.000 para ter uma mesa em volta da pista e um garçom particular (que serve até seis pessoas).
Sem site ou página no Facebook, a BC, como é chamada, funciona às quintas-feiras e prefere ser desconhecida do grande público. As entradas custam a partir de R$ 200 para homens -mulheres não pagam.
O surgimento de casas exclusivas como a BC responde a uma tendência na noite paulistana: a migração do público que ia a baladas famosas, como Pink Elephant e Disco, para festas esporádicas voltadas à elite.
"No começo abríamos todos os sábados, mas agora analisamos a programação da noite antes de decidir se vale a pena", diz Luciana Garcia, gerente da BC.
A estratégia é diferente das casas noturnas da Vila Olímpia, bairro historicamente identificado com ritmos populares. Lá, o sucesso da vez é a boate sertaneja Villa Mix.
Segundo Julio Hercowitz, músico que se apresenta em bares do bairro, a Vila Olímpia abriga uma mistura maior de classes sociais. "Os estilos musicais característicos dos bares da região atraem gente de diferentes condições e regiões da cidade".
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Thiago Roxo e Mariane Suiya no bar Brexó |
VOCAÇÃO PARA A NOITE
A concentração de bares e baladas entre o Itaim e a Vila Olímpia foi estimulada, segundo Lacides de Souza, diretor da Galeria BR, especializada na intermediação comercial de bares e restaurantes, pelas reformulações urbanas na avenida Faria Lima, nos anos 1990, e pela construção de torres comerciais nos últimos dez anos.
"Desde então, o desenvolvimento desses bairros foi constante, até serem reconhecidos hoje como alguns dos principais centros de entretenimento da cidade", afirma Souza.
O fato de muitas empresas terem se estabelecido ao redor da Faria Lima foi um dos fatores fundamentais para que os bairros se firmassem como regiões com vocação para a vida noturna.
Sócio do bar Brexó, localizado na rua Tabapuã, no Itaim, Gabriel Fullen diz que boa parte do público que frequenta o bar trabalha nas redondezas.
"Muitos dos nossos clientes trabalham no mercado financeiro e vêm aqui para o happy hour", afirma. Segundo ele, seus clientes não priorizam, acima de tudo, o serviço ou a qualidade do produto. "Hoje a galera quer ficar na rua, quer um clima mais descontraído".
É o caso dos amigos Thiago Roxo, 24, advogado, e Mariane Suiya, 25, trainee da Ernst & Young, que vão aos bares da região pelo ambiente descontraído e pela "galera legal" que os frequenta.
"Eu trabalho ao lado e a maioria dos meus amigos vêm aqui. É natural que eu venha também", diz Mariane, que vive em Interlagos.
"Às quintas-feiras é impossível sentar no bar Brexó e o serviço poderia ser melhor", diz Roxo, com um copo na mão, no meio do burburinho formado na rua. Do outro lado da rua, um boteco simples vende a mesma cerveja 40% mais barata.